Radio Antigamente

2010/04/21

Dina Di - O rap nacional perdeu mais um.

Era época de Racionais MC’s, anos 90, cena rap nacional dominada predominantemente por homens. Aí chega Dina Di: mulher, branca, do interior de São Paulo. Ok, o que isso tem demais? As ideias que Dina mandava. Mulher não precisa ser submissa, amor é bom mas não pode acabar com a sua vida, meninas terão espaço quando tiverem trabalho de qualidade. Se alguém te contasse essa história, você iria achar que a garota que mandava essas ideias permaneceria num cenário machista como aquele? Pois é, Dina Di sobreviveu.

E foi por qualidade, por dedicação, por acreditar no rap, na mensagem, na força que poderia ser passada a quem estivesse perdendo a esperança que Dina Di ganhou respeito e espaço na cena. Não foi um rosto bonito, um bom rebolado e uma música com refrão que gruda na cabeça. Foram sons de respeito, letras que fizeram muita gente pensar no caminho que estava seguindo e nas opções que tinha.

Dina Di retratou um mundo em que nem toda mulher de presidiário é mulher de malandro, em que os rumos podem ser mudados ou então o caminho escolhido pode ser outro. A MC mostrou a luta de quem está do “outro lado da muralha”, de segurar a barra, esperar o homem voltar e acreditar que merece ser feliz.

“Não, não nasci pra ser mulher de ladrão

muito menos de irmão,

respeito quem é, moro jão,

dinheiro é bom sim,

não malotes, jóias no cofre, ilusão”

No último sábado, 20, o corpo de Dina Di cansou de lutar, coisa que sua mente nunca fez. Depois de passar pelo momento mais feminino que uma mulher pode passar: dar a luz. Dina Di trouxe Aline ao mundo que tentava arrumar, mas seu corpo foi invadido por uma infecção oportunista, coisa que ela nunca deixou ninguém fazer, invadir sua vida e mudar o rumo sem sua autorização.

O corpo vai embora, mas a ideia continua. Entre diversos textos de adeus, lamentações virtuais e comentários sobre a força de Dina Di fica a esperança de que a chama não se apague, que tudo o que ela pregou, ensinou e acreditou seja levado adiante. Que outras mulheres entendam que ser mulher é muito maior do que um olho pintado e uma roupa feminina. Que a força feminina de Dina Di mostre que não é preciso perder a ternura.

Para marcar o mundo algumas pessoas plantam árvores, escrevem um livro ou fazem um filme. Dina Di apenas viveu a vida que acreditava ser a certa e deixou uma marca muito maior do que quem vive tentando fazê-lo. Daqui pra frente é obrigação de todos nós não deixar que a mensagem seja tão frágil quanto o corpo físico.

Dina Di ainda vive e só vai deixar de fazê-lo quando cada um de nós permitir. Que isso nunca aconteça. Continue inspirando onde quer que esteja, Dina Di.

“É tudo o que a gente passou,

até que a morte nos separe,

palavras são palavras”


Postado por Andre Luis Oliveira da Silva

Este post foi reproduzido quase que na integra do site PalcoMP3, todos os créditos são do autor.

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