Era época de Racionais MC’s, anos 90, cena rap nacional dominada predominantemente por homens. Aí chega Dina Di: mulher, branca, do interior de São Paulo. Ok, o que isso tem demais? As ideias que Dina mandava. Mulher não precisa ser submissa, amor é bom mas não pode acabar com a sua vida, meninas terão espaço quando tiverem trabalho de qualidade. Se alguém te contasse essa história, você iria achar que a garota que mandava essas ideias permaneceria num cenário machista como aquele? Pois é, Dina Di sobreviveu.
E foi por qualidade, por dedicação, por acreditar no rap, na mensagem, na força que poderia ser passada a quem estivesse perdendo a esperança que Dina Di ganhou respeito e espaço na cena. Não foi um rosto bonito, um bom rebolado e uma música com refrão que gruda na cabeça. Foram sons de respeito, letras que fizeram muita gente pensar no caminho que estava seguindo e nas opções que tinha.
Dina Di retratou um mundo em que nem toda mulher de presidiário é mulher de malandro, em que os rumos podem ser mudados ou então o caminho escolhido pode ser outro. A MC mostrou a luta de quem está do “outro lado da muralha”, de segurar a barra, esperar o homem voltar e acreditar que merece ser feliz.
“Não, não nasci pra ser mulher de ladrão
muito menos de irmão,
respeito quem é, moro jão,
dinheiro é bom sim,
não malotes, jóias no cofre, ilusão”
No último sábado, 20, o corpo de Dina Di cansou de lutar, coisa que sua mente nunca fez. Depois de passar pelo momento mais feminino que uma mulher pode passar: dar a luz. Dina Di trouxe Aline ao mundo que tentava arrumar, mas seu corpo foi invadido por uma infecção oportunista, coisa que ela nunca deixou ninguém fazer, invadir sua vida e mudar o rumo sem sua autorização.
O corpo vai embora, mas a ideia continua. Entre diversos textos de adeus, lamentações virtuais e comentários sobre a força de Dina Di fica a esperança de que a chama não se apague, que tudo o que ela pregou, ensinou e acreditou seja levado adiante. Que outras mulheres entendam que ser mulher é muito maior do que um olho pintado e uma roupa feminina. Que a força feminina de Dina Di mostre que não é preciso perder a ternura.
Para marcar o mundo algumas pessoas plantam árvores, escrevem um livro ou fazem um filme. Dina Di apenas viveu a vida que acreditava ser a certa e deixou uma marca muito maior do que quem vive tentando fazê-lo. Daqui pra frente é obrigação de todos nós não deixar que a mensagem seja tão frágil quanto o corpo físico.
Dina Di ainda vive e só vai deixar de fazê-lo quando cada um de nós permitir. Que isso nunca aconteça. Continue inspirando onde quer que esteja, Dina Di.
“É tudo o que a gente passou,
até que a morte nos separe,
palavras são palavras”
Postado por Andre Luis Oliveira da Silva
Este post foi reproduzido quase que na integra do site PalcoMP3, todos os créditos são do autor.
2010/04/21
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